Saúde
Tudo o que precisa de saber sobre as máscaras sociais
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Quando o país deixar de estar em estado de emergência, o que se prevê acontecer a 3 de maio, o regresso ao trabalho e às escolas será feito com base em novas rotinas e práticas, que devem ser adaptadas de forma a reduzir ao máximo o risco de infeção. Assim anunciou a Direção Geral de Saúde que já apontou a necessidade, enquanto medida barreira, do uso de máscara por toda a população.
Falamos de máscaras sociais, que diferem das máscaras cirúrgicas, que se cingem a profissionais de saúde, cuidadores de pessoas com Covid-19 e doentes autoimunes.
Para esclarecer algumas questões que surjam sobre esta necessidade, a Men’s Health falou com Inês Neto, enfermeira generalista em urgências pediátricas.
Sendo este um tema algo controverso e cujas opiniões por parte de cada país afetado pela Covid-19 se deferem, a enfermeira começa por defender o seu ponto de vista, certa de que, “se todos utilizássemos máscara no nosso dia-a-dia, daqui em diante, em especial em espaços fechados em que não é possível a distância de segurança de 1 a 2 metros entre pessoas provavelmente o risco de contágio seria muito menor”.
Até então, esta é a diretriz anunciada pela Direção Geral da Saúde. Esclarecemos algumas questões sobre o tema, de forma a garantir a sua correta utilização.
Quem as deve usar?
Segundo a Ministra da Saúde, na conferência de imprensa de 13 de abril, o uso máscaras não cirúrgicas ou sociais será generalizado a toda a população em espaços fechados como farmácias, transportes públicos, supermercados ou qualquer outro local público com demasiadas pessoas.
Note-se que esta generalização deixa de parte os casos específicos de profissionais de saúde, cuidadores de pessoas com Covid-19, doentes autoimunes e outros com o sistema imunitário comprometido, a quem se impõe o uso de máscaras cirúrgicas. O mesmo se aplica a certos grupos profissionais como bombeiros ou agentes funerários, por exemplo.
Onde arranjar as máscaras sociais?
Por ser um dispositivo não certificado, grandes e pequenos negócios da indústria têxtil têm vindo a produzir as máscaras sociais. Um acessório que carece de diretrizes específicas, nomeadamente o material utilizado e a forma de higienização das máscaras. Provavelmente já se deparou com publicidade de venda de tal produto. Contudo, há que garantir que a máscara social que pretende adquirir segue as normas essenciais à proteção de quem a usa.
Para tal garantia, e como se lê no site da Infarmed, “os fabricantes deverão notificar a ASAE da atividade de fabrico e das máscaras fabricadas e manter à disposição das autoridades um breve dossier técnico do produto onde se incluam as características da matéria-prima, a descrição do processo de fabrico, a informação a fornecer com o produto e os relatórios dos ensaios realizados e da conformidade do produto emitidos por laboratório reconhecido, nomeadamente os laboratórios acreditados para os métodos indicados”.
Um lenço não chega?
Se a máscara social não é um material médico, surge a questão se um simples lenço não poderá garantir a mesma proteção. A resposta será não: deve mesmo optar pela máscara social, que garanta as características impostas. Inês Neto explica porquê: “O material utilizado nas máscaras sociais deverá oferecer proteção de partículas grandes e fluidas, o que um lenço não nos poderá oferecer essa proteção”.
Além disso, “a própria eficácia de uma máscara pode diminuir ao longo do tempo de utilização, quanto mais um lenço que utilizamos várias vezes no dia-a-dia”. Por último, numa máscara é possível adicionar um filtro, de forma a garantir maior proteção, algo que num lenço não é possível”.
Como devem ser as máscaras sociais?
Como aponta a enfermeira com quem a Men’s Health falou, “mais do que o tipo de composição da máscara, importa a forma como a vamos utilizar e salientar sempre que a máscara é um complemento. Devemos manter a higienização frequente das mãos, o distanciamento social sempre que possível (mesmo com máscara) e etiqueta respiratória.”
Até então, as regras delineadas pelo Infarmed sobre o material das máscaras sociais, indica que as mesmas devem ser de algodão, poliéster ou uma combinação dos dois. Além disso, aponta Inês Neto, “devem incorporar tecido não tecido (TNT) de forma a fornecer proteção de partículas grandes e fluidas. Há também a possibilidade de existir uma bolsa dentro da máscara de forma a colocar-se um filtro, para promover maior proteção, sendo que esse filtro deverá ser um material filtrante como um saco de aspirador, filtro de café, ou até um guardanapo”, conclui.
Como garantir que as máscaras sociais são seguras?
“A utilização de máscaras sociais tem como função proteger terceiros e não a pessoa que a utiliza” começa por explicar Inês Neto, que conclui: “se todos a utilizarmos, o risco de propagação e transmissão do vírus é muito menor”.
Ainda assim, tal proteção carece de caraterísticas específicas que estão a ser concluídas por parte da DGS e da Infarmed, em conjunto com a ASAE, IPQ e CITEVE.
Para já, sabe-se que as máscaras sociais podem ser de algodão ou poliéster ou uma mistura de ambos os materiais. Assim avançou o Rui Ivo, Presidente do Infarmed – Autoridade Nacional do Medicamento e Produtos de Saúde.
Mais acrescenta a ASAE que “devem garantir um nível mínimo de filtração de 70%, respirabilidade de pelo menos 8 l/min ou no máximo de 40 Pa/segundo, e permitir 4 horas de uso ininterrupto sem degradação da capacidade de retenção de partículas nem da respirabilidade”.
Segundo o comunicado lançado com as especificações técnicas dos vários tipos de máscaras, a responsabilidade da conformidade das máscaras sociais “recairá no fabricante, devendo este escolher matérias-primas adequadas, conceber, fabricar e rotular as máscaras de forma a que estas cumpram com os requisitos definidos, assim como testá-las de acordo com os referenciais normativos aplicáveis, em laboratório reconhecido para o efeito”.
Desta forma, quem comprar determinada máscara social terá, à partida, a garantia de que a mesma segue as normas orientada por este órgão.
Há forma correta de colocar a máscara social?
Sim. Como se lê no site da DGS, “a utilização de máscaras pela população implica o conhecimento e domínio das técnicas de colocação, uso e remoção, e a sua utilização não pode, de forma alguma, conduzir à negligência de medidas fundamentais como o distanciamento social e a higiene das mãos”.
As técnicas de colocação resumem-se a lavar as mãos antes de colocar a máscara (com sabão ou solução à base de álcool). “A máscara deve ser sempre bem ajustada, com ajuste da extremidade rígida da máscara ao nariz, cobrindo sempre o nariz, a boca e o queixo, certificando que não existe nenhum espaço entre a cara e a máscara”, refere Inês.
Também para retirar a máscara deve lavar as mãos com água e sabão ou solução à base de álcool; retirar a máscara apenas segurando nos elásticos, manter a máscara longe do rosto e da roupa, para evitar tocar em superfícies potencialmente contaminadas da máscara e, por último, colocar a máscara no recipiente adequado e lavar novamente as mãos.
Como as lavar?
A correta forma de lavagem, secagem, conservação e manutenção das máscaras em questão, bem como o seguro número de reutilizações das mesmas, devem ser informações indicadas aos utilizadores pelos próprios fabricantes. Uma vez que este será um terceiro tipo de equipamento de proteção, a ser produzido com o apoio da indústria nacional, não existe um conjunto de normas que se possa generalizar.
Ainda assim, Inês Neto aponta, como medidas gerais que “as máscaras, tal como a roupa, quando chega da rua, deverá ser lavada a 60º durante um ciclo de lavagem completa, com detergente, após cada utilização, pelo que devem ter sempre 2 a 4 máscaras em casa por pessoa, de forma a irem alternando e manter a eficácia das máscaras. Após a lavagem deve ser colocada a secar, e sempre após lavagem adequada das mãos, pegando pelos elásticos da máscara e não pelo corpo da máscara em si. O filtro deve ser sempre trocado”.
Por quanto tempo devo usar as máscaras sociais?
“As máscaras sociais devem permitir uma utilização interrupta até 4 horas, sem degradação da sua capacidade de retenção de partículas nem da respirabilidade. Deve, também, assegurar, no mínimo 70% de filtração” refere a entrevistada pela nossa revista. “Claro que com a sua utilização, a eficácia de proteção irá diminuir ao longo do tempo, pelo que a máscara só poderá ser utilizada por um período que não comprometa a sua permeabilidade, ou que não tenha contacto com líquidos. Se por exemplo, a máscara for molhada, deixa de ser eficaz. Deve ser colocada num saco de plástico fechado até ir para a máquina de lavar”, alerta.
Se não estou em teletrabalho, não preciso de usar a máscara durante o dia todo?
“Nos locais de trabalho devem existir alternativas. Caso não se possa assegurar o distanciamento social, deve-se providenciar equipamento adequado e ajustado a cada profissão como viseira ou máscaras cirúrgicas, pelo que estas máscaras não funcionarão num dia inteiro de trabalho em que as pessoas param para comer e têm de retirar a máscara várias vezes. Só o ato de colocar e retirar a máscara várias vezes já poderá estar a comprometer a sua segurança”, alega Inês Neto.
E depois do trabalho, quando regresso a casa nos transportes públicos, posso ‘repetir’ a máscara usada de manhã?
Visto que o uso de cada máscara se deve limitar a um máximo de 4 horas interruptamente, a resposta será não.
“Tirar a máscara ou colocar a máscara por baixo do queixo para comer ou atender o telefone é altamente desaconselhado. A máscara deixa automaticamente de ser eficaz”, diz a enfermeira, que sugere que cada pessoa tenha 2 a 4 máscaras, de forma a garantir ter sempre uma disponível.
“Se chegar ao escritório e retirar a máscara, antes de mais deve ter todos como segurar a máscara através dos atilhos ou elásticos e nunca na parte da frente da máscara. Lavar ou desinfetar com solução ou gel à base de álcool (priorizando sempre a lavagem) as mãos antes e depois de retirar a máscara. De salientar que ao pousar a máscara numa superfície, esta estará já conspurcada, pelo que não poderá ser reutilizada sem a devida lavagem da máscara. Posto isto, uma opção é ter uma caixa que é desinfetada todos os dias com álcool a 70º ou alguma solução desinfetante que tenha álcool onde coloca as máscaras lavadas e prontas a utilizar. A utilizada é colocada num saco de plástico fechado e quando a pessoa regressar para casa nos transportes públicos, utiliza uma nova máscara, após a devia higienização das mãos”, conclui.
Que cuidados deixam de ser necessários com o uso da máscara social?
Antes de ser obrigatório o uso de máscara social em espaços públicos, a própria DGS alegou que o uso de máscaras não era aconselhado por quem não estava infetado, pois dava a sensação de falsa segurança. Com as medidas revistas e a necessidade de uso deste acessório, alerta-se, porém, que os cuidados básicos são para se manter.
Dito isto, deve manter hábitos como lavar as mãos frequentemente e evitar tocar nos olhos, boca e nariz. Deve continuar a evitar locais com demasiadas pessoas e cobrir a boca com um lenço de papel (e deitá-lo fora de seguinte) ou com o cotovelo, ao tossir ou espirrar.